Tumor
De acordo com Hernando, metade das vítimas do mesotelioma, um dos tumores causados pelo contato com amianto, relatam não terem consciência de que foram contaminadas pela substância. Além disso, outras doenças provocadas pelo agente químico, como a abestose, podem levar até 30 anos para aparecerem após o contato com o amianto. “O amianto está impregnado na sociedade. São telhas e caixas d’água, por exemplo, espalhadas com amianto. As pessoas continuam tendo contato com essa exposição. Esses farelos nas telhas das residências que são malconservadas podem produzir essas doenças, de forma que as pessoas vão morrer sem saber que foram contaminadas. É importante ter também um projeto que acompanhe, monitore e vigie o ambiente e as pessoas pelo grande passivo que certamente o Brasil ainda terá nos próximos 30 anos de amianto para recolher”, acrescentou Hernando. A comissão se comprometeu a, no futuro, também fazer esse tipo de monitoramento.
O ‘mineral maldito’
A jornalista Marina Moura, autora do livro ‘Eternidade: a construção social do banimento do amianto no Brasil’, encomendado pelo Ministério do Trabalho e lançado durante a reunião, relatou que em seu processo de apuração conversou com diversas mulheres que contraíram doenças causadas pela substância apenas por lavar a roupa dos maridos que trabalhavam nas indústrias.
Pessoas
Segundo Marina, o seu livro também trata dessas pessoas: “Esse livro reúne as diversas vozes desses trabalhadores, suas famílias e as características de cada associação. Como elas se consolidaram e transformaram dor em força para lutar, para vencer, em busca de indenizações, em busca de reparos de famílias inteiras que se corromperam por causa desse ‘mineral maldito’, que achavam que era ‘mágico’ pela durabilidade e firmeza, mas que na verdade mata”, explicou a repórter.
Racismo ambiental
Uma das fundadoras da Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (Abrea) e engenheira de Segurança do Trabalho, Fernanda Giannasi citou como exemplo de perpetuação do uso do amianto um projeto de lei estadual que corre em Goiás. Figura importante dentro do movimento e citada no livro de Marina, ela explicou que a proposta autorizaria uma empresa a continuar manipulando o amianto no Brasil com o intuito de exportá-lo para fora do país. Além de suscitar racismo ambiental, visto que se estaria vendendo uma substância tóxica para nações como Índia, China e/ou países africanos que possuem uma legislação que não leva isso em consideração como a brasileira. Nesse caso, trabalhadores continuariam a ter contato com o mineral.