Conhecida como a capital nacional das vítimas do amianto, Osasco terá finalmente um Memorial em homenagem aos contaminados por esse mineral, que foi extensivamente utilizado em mais de 3.000 produtos industriais, principalmente materiais de construção civil como telhas e caixas d'água.
A prefeitura inaugura neste domingo, 8, às 10h, no Largo de Osasco, a Pedra Fundamental, ato que simboliza o início do processo da construção da “Árvore-Pulmão”, obra de arte que materializa metaforicamente a luta pela vida de milhares de vítimas do mineral cancerígeno, que no final da vida não conseguem mais respirar em virtude das doenças provocadas pela fibra mortal. Além da Árvore-Pulmão, com sete metros de altura, o Memorial terá um painel com o nome de mais de 600 pessoas que morreram em virtude da exposição ao amianto.
O evento contará com a presença de contaminados e familiares de vítimas vindas de diversas partes do país e convidados internacionais, oriundos de Portugal, Argentina e Estados Unidos, bem como lideranças políticas locais, incluindo o prefeito Rogério Lins (PODEMOS).
O Memorial será instalado na praça, atualmente denominada Expedicionário Mario Buratti, nas proximidades de onde se situava a Eternit, a maior das unidades da multinacional suíça nas Américas, conhecida produtora de telhas, tubulações, caixas d'água e outros artefatos de cimento-amianto, e que permaneceu na cidade por 56 anos, entre 1937 a 1993, deixando para trás um enorme passivo socioambiental, um legado de contaminação e morte, como fez em vários países, principalmente Itália e Bélgica.
A obra foi concebida pelo artista plástico brasilense W. Hermusche a pedido da Abrea (Associação Brasileira dos Exposto ao Amianto), que será doada à cidade.
“Nesta tragédia do amianto, os obreiros entregavam inocentemente o seu cotidiano ao trabalho, que acreditavam estar garantindo o seu sustento e de suas famílias e, por conseguinte, a vida. A cada dia, entretanto, estavam sendo lentamente envenenados. Esta contradição cruel é o que a árvore-pulmão expressa”, salientou Hermusche.
Para o presidente da Abrea, Eliezer João de Souza, o Memorial visa manter viva a memória destas vítimas inocentes e representa um símbolo de resistência e luta contra o mineral que mata milhares de pessoas anualmente, não só no Brasil como em todo o mundo.
“'É mais um momento histórico na luta contra o amianto, contra empresas, contra o capital, que visam apenas o lucro em detrimento da saúde e vida de seus trabalhadores. O Memorial é uma homenagem aos que se contaminaram com a fibra assassina e um alerta para as futuras gerações, para que possam evitar que tragédias como essa não se repitam. Essa catástrofe sanitária do século XX não pode se repetir. Osasco já foi espelho da morte. Que seja agora o espelho do respeito à vida”, enfatizou.
Seminário e Encontro das Vítimas
O lançamento da Pedra Fundamental faz parte das atividades do III Seminário Internacional do Amianto: Uma Abordagem de Vigilância em Saúde e do IV Encontro Nacional da Vítimas do Amianto, que estão sendo realizados na capital paulista e em Osasco, entre 4 até 8 de maio.
Os eventos são uma realização do Ministério Público do Trabalho, do Diesat (Departamento Intersindical de Estudos e Pesquisas de Saúde e dos Ambientes de Trabalho) e da Abrea, e reúne pesquisadores, médicos, juristas, sindicalistas, vítimas, familiares de várias partes do Brasil e convidados internacionais.
O uso do amianto é proibido desde 2017 no Brasil após uma decisão histórica do Supremo Tribunal Federal (Supremo Tribunal Federal), mas a SAMA, subsidiária do grupo Eternit, dono de uma das maiores minas de amianto do mundo, situada no norte de Goiás, divisa com Tocantins, continua a produzir e exportar o mineral para alguns países, especialmente do continente asiático, alegando se apoiar numa lei inconstitucional, que está sendo contestada no STF pela ANPT (Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho), com apoio da Abrea.
Mais informações em brasilsemamianto.com.br ou abrea.org.br